quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Serão os PIIGS todos iguais?



A sigla PIIGS é utilizada pejorativamente para designar um conjunto de países (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha) cujo desempenho económico não é considerado meritório, sobretudo nas últimas décadas. Apesar da pretensa falta de mérito, serão os PIIGS todos iguais? Para responder a esta questão, proponho-me analisar um conjunto de indicadores económicos e sociais e compará-los entre os diferentes países.

Produtividade e poder de compra
O PIB fornece importantes informações sobre a capacidade produtiva ou a eficiência produtiva per capita da população de cada país.
Através do gráfico da figura 1, pode-se observar que o país com valor mais elevado de PIB per capita em 2011 é a Irlanda (35,400€) e, por outro lado, que o país com valor mais baixo é Portugal (16,000€), separados por uma diferença de 19,400€ no ano em referência.
No período em análise – 2009 a 2011 –, a Itália revelou um PIB crescente e a Grécia, pelo contrário, decrescente.



O Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IPHC) permite medir a variação média do poder de compra dos consumidores.
Apesar de, no período em análise, a maioria dos países não ter revelado uma tendência crescente em termos de PIB, todos eles (excepto a Irlanda) verificaram variações crescentes em termos de poder de compra, (figura 2). O alcance da melhoria do nível de vida, proporcionado pelo aumento do poder de compra (mantendo-se o resto constante), não foi acompanhado, na maioria dos casos, por um aumento do PIB.



Desemprego
O fenómeno do desemprego tem sido uma preocupação crescente nos PIIGS. Entre eles, a Espanha é o caso mais expressivo, tendo registado, em Agosto de 2012, uma taxa de desemprego de 25,1%, mais 2,6% que em Setembro do ano anterior. Ainda assim, a Grécia segue-a de perto, com 24,4% da população ativa desempregada e verificando a maior variação em relação ao período anterior (5,5%).
Por outro lado, a Itália é o país cuja taxa de desemprego foi mais baixa (10,7% em Agosto de 2012).



Endividamento público
“Quando as nossas finanças estão desequilibradas, podemos fazer três coisas: aumentamos rendimentos e/ou diminuímos despesas e/ou pedimos dinheiro emprestado para tentarmos manter o nível de vida. (...) Uma lógica semelhante aplica-se aos países.” (Portugal na Hora da Verdade, Álvaro Santos Pereira).
Porém, o desequilíbrio que já se verificava em 2001, sendo as despesas públicas superiores às receitas, não foi resolvido, antes se agravou dramaticamente.
Em 2011, verificamos que a Grécia é o país mais endividado em 165,3% do PIB. A Espanha, apesar de ser o menos endividado, regista um valor acima dos 50% do PIB (68,5%).
Qualquer dos países em análise verificou um aumento no endividamento público entre 2001 e 2011. Irlanda, Portugal e Grécia foram os países cujas dívidas mais aumentaram, tendo triplicado no caso irlandês e duplicado no caso português.



Os PIIGS estão, economicamente, pouco saudáveis.
Portugal é o menos produtivo per capita, tem a terceira taxa de desemprego mais alta e registou um aumento significativo em termos de dívida pública.
Itália, apesar da menor taxa de desemprego, ocupa a segunda posição em termos de endividamento em 2011.
Irlanda destaca-se positivamente em termos de PIB per capita, mas revelou um aumento muito expressivo no endividamento público.
Grécia é considerada a situação mais grave, sobretudo pela alarmante dívida pública que regista.
Espanha destaca-se negativamente em termos de desemprego.
O comportamento das cinco economias varia consoante a rubrica em análise, mas, no conjunto, atravessam situações semelhantes de recessão económica, tendo, alguns deles, necessitado já de recorrer a ajuda financeira internacional.
Em síntese, apesar de nem sempre serem coincidentes, quer os indicadores socioeconómicos, quer a sua intensidade, a verdade é que os PIIGS caminham lado a lado.

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