De um lado, estão os que o defendem, alegando que facilitará a
aprendizagem da língua portuguesa numa perspectiva internacional, que
fortalecerá a importância do português no estabelecimento de relações com o
exterior, nomeadamente em termos económicos e comerciais, e que poderá, ainda,
ajudar os alunos que têm dificuldades na escrita e que vêem, por essa razão, o
seu rendimento escolar comprometido.
Em oposição, os defensores da antiga grafia argumentam que
continua a não existir unificação, uma vez que há palavras que subsistem a
escrever-se de formas distintas dentro da CPLP (Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa), que o Acordo não é meramente ortográfico, sendo também fonético
nalgumas situações (exemplificando o caso de “espectadores” versus “espetadores”), que países cujas
línguas têm importância internacional, como o inglês ou o francês, não
precisaram de unificações ortográficas para garantirem esse estatuto e que os
custos implicados não são conscientes e adequados face à conjuntura económica atual.
Do meu ponto de vista, se é verdade que o A.O. proporcionou
algumas mudanças importantes e necessárias, o oposto também é válido. Concordo,
por isso, com a evolução natural da língua, mas discordo do Acordo. Há palavras
que, de facto, mereciam uma nova grafia, nomeadamente a queda de muitas das
consoantes mudas (escrevi “muitas”, não “todas”!). No entanto, há casos com os
quais não consigo concordar e que contrariam o processo natural de evolução. Discordo,
especialmente, quando as novas regras de ortografia comprometem a fonética (por
exemplo, o famoso caso de “pára”, que, agora, se escreve “para”, ou as formas
verbais no pretérito que deixam de ser acentuadas e passam a ser escritas da
mesma maneira que a forma verbal no presente – “gostámos” versus “gostamos”, por exemplo –, entre outros casos menos felizes).
O que considero deveras infeliz é a série televisiva “Equador”,
baseada na obra de Miguel Sousa Tavares, realizada por actores portugueses e
transmitida em Portugal em 2008, ter sido dobrada, no Brasil, em 2011, para ser
transmitida na TV Brasil. Mas nós não dobrámos a “Gabriela”...
O
português de Gil Vicente é muito diferente do de Camões, do de Eça e do atual.
No entanto, não houve quaisquer acordos para permitir essa evolução. Não
precisávamos do pretexto de um Acordo Ortográfico para desenvolvermos mudanças
importantes na escrita. Aliás, se não tivesse sido assim, provavelmente este
trabalho estaria bem melhor conseguido, porque o propósito seria a evolução,
tão simples quanto ela é. Assim, complicámos, cometemos erros e caminhámos
no sentido de ignorar a etimologia, que é a identidade da língua.