sábado, 23 de fevereiro de 2013

Ainda o Acordo Ortográfico...



         O assunto Acordo Ortográfico (A.O.) tem dado origem a muitas discussões e polémicas. De facto, trata-se de um tema bastante controverso, que tem inquietado muitos, por diferentes razões.
De um lado, estão os que o defendem, alegando que facilitará a aprendizagem da língua portuguesa numa perspectiva internacional, que fortalecerá a importância do português no estabelecimento de relações com o exterior, nomeadamente em termos económicos e comerciais, e que poderá, ainda, ajudar os alunos que têm dificuldades na escrita e que vêem, por essa razão, o seu rendimento escolar comprometido.
Em oposição, os defensores da antiga grafia argumentam que continua a não existir unificação, uma vez que há palavras que subsistem a escrever-se de formas distintas dentro da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), que o Acordo não é meramente ortográfico, sendo também fonético nalgumas situações (exemplificando o caso de “espectadores” versus “espetadores”), que países cujas línguas têm importância internacional, como o inglês ou o francês, não precisaram de unificações ortográficas para garantirem esse estatuto e que os custos implicados não são conscientes e adequados face à conjuntura económica atual.
Do meu ponto de vista, se é verdade que o A.O. proporcionou algumas mudanças importantes e necessárias, o oposto também é válido. Concordo, por isso, com a evolução natural da língua, mas discordo do Acordo. Há palavras que, de facto, mereciam uma nova grafia, nomeadamente a queda de muitas das consoantes mudas (escrevi “muitas”, não “todas”!). No entanto, há casos com os quais não consigo concordar e que contrariam o processo natural de evolução. Discordo, especialmente, quando as novas regras de ortografia comprometem a fonética (por exemplo, o famoso caso de “pára”, que, agora, se escreve “para”, ou as formas verbais no pretérito que deixam de ser acentuadas e passam a ser escritas da mesma maneira que a forma verbal no presente – “gostámos” versus “gostamos”, por exemplo –, entre outros casos menos felizes).
O que considero deveras infeliz é a série televisiva “Equador”, baseada na obra de Miguel Sousa Tavares, realizada por actores portugueses e transmitida em Portugal em 2008, ter sido dobrada, no Brasil, em 2011, para ser transmitida na TV Brasil. Mas nós não dobrámos a “Gabriela”...
O português de Gil Vicente é muito diferente do de Camões, do de Eça e do atual. No entanto, não houve quaisquer acordos para permitir essa evolução. Não precisávamos do pretexto de um Acordo Ortográfico para desenvolvermos mudanças importantes na escrita. Aliás, se não tivesse sido assim, provavelmente este trabalho estaria bem melhor conseguido, porque o propósito seria a evolução, tão simples quanto ela é. Assim, complicámos, cometemos erros e caminhámos no sentido de ignorar a etimologia, que é a identidade da língua.